quinta-feira, 3 de junho de 2010

AGUINALDO SILVA BY SIMONE MAGALHÃES


Treze de janeiro de 1999. Voltava de uma matéria na Barra, e pedi que o motorista do jornal parasse em Copacabana. Atravessei a Nossa Sra., correndo, entrei esbaforida no laboratório, e lá estava num papel azul: grávida! Ri, chorei, bebi água, e voltei pro carro. Matéria à tarde, na Tycoon. Todos nós, jornalistas, sentados no chão do corredor, esperando Vera Fischer gravar participação em Mulher e vir falar conosco. Mas só eu trazia um filho na barriga. Só eu era a mulher mais feliz do mundo. Vera saiu pelos fundos. Raiva geral. Para mim, nada mais tinha importância. Mas durou pouco. Logo tive o primeiro episódio (ou ataque, como os leigos dizem) de pânico. Não conseguia mais entrar no jornal. Não conseguia mais sair do quarto. Não conseguia mais andar. Os médicos diziam: "É hormonal", "É a somatória de ansiedade, estresse, muito trabalho", "É resíduo do acidente aéreo sofrido há pouco tempo". Todos achavam que sabiam. Eu só sabia que sofria. Um dia, entrei na casa da minha mãe e nunca mais saí. Passei sete meses deitada na cama dela, em posição fetal. Chorava o dia inteiro, não falava com ninguém, não aceitava ver meu marido, não aceitava me ver. Depressão. Remédios tarja preta. Nada de comida. Nove quilos mais magra. E grávida.
Os episódios de pânico se sucediam... Morri milhares de vezes naqueles meses. A dor no peito era morte certa. As quedas. A falta de ar, de controle sobre meu corpo. E como cada ataque durava, em média, dez minutos, só depois que me levantava do chão ou do sofá, lembrava que poderia ter machucado meu filho.
Mas tinha um momento, um momento só, em que não havia dor emocional ou física. Quando minha mãe - a mulher mais guerreira que Deus colocou neste mundo - falava: "Minha filha, tá na hora da novela!". Para ela, também era o melhor momento do dia. Eu ia para o sofá da sala assistir à Suave Veneno, e, quantas vezes, a vi disfarçar o choro, por me pegar esboçando um sorriso. Eu... sempre autômata, arredia, a olhar o vazio. Mas a noite era mágica: 40 minutos de uma viagem para longe da depressão, do pânico, do medo da morte. Uma pausa naquele sofrimento que parecia não ter fim.
Por isso, Aguinaldo, refuto sempre que dizem que Suave Veneno não foi uma grande trama, que houve problemas dessa ou daquela natureza. Para mim, foi a melhor novela do mundo! Agora, tantos anos depois, já consigo falar disso. Você não tem ideia da importância que Uálber e cia. tiveram para mim. A novela me deu alento no pior - que deveria ser o melhor - momento da minha vida. Para mim, Suave Veneno foi um grande sucesso. Assim, como você também é e nunca deixará de ser. Muito obrigada.

PS. João Paulo nasceu saudável, sem nenhuma sequela, em 2 de setembro de 99. E eu fiquei ótima. Como se o parto fosse o remédio para todos os males. Meu filho é lindo, inteligente, carinhoso e só nos dá alegrias. Desde pequeno costumo chamá-lo de "light up of my life", por causa de uma música da Debbie Boone, que marcou minha adolescência. Outro dia, ele chegou mais cedo do colégio, tocou a campainha e perguntei quem era. João Paulo respondeu, brincando: "É sua light up of my life, mãe!". A minha luz. Para sempre!



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