terça-feira, 1 de junho de 2010

Aguinaldo Silva by Kátia Moraes (2)

O novelista Aguinaldo Silva na minha vida

"De todo o meu passado, boas e más recordações. Quero viver meu presente e lembrar tudo depois. Isso é o que me faz dizer que vejo flores em você"

Eu sempre fui apaixonada por novela, apaixonada! E como falar do Aguinaldo Silva sem falar sobre suas novelas? Essa proximidade que você nos proporciona, às vezes me confude, de quem estou falando? Do Aguinaldo Silva Ficcionista ou do Aguinaldo Silva Homem? O homem que, cada vez mais, vou conhecendo sua visão sobre as coisas do mundo?
O ficcionista é claro, é você também, com seu humor inigualável, com sua imaginação recheada de personagens fantásticos.
ROQUE SANTEIRO é a minha novela preferida de todos os tempos, talvez empate com TIETA e VALE TUDO. E ora que coisa! Todas sendo em autoria ou co- autoria, foram ESCRITAS por você. Mas essas novelas são as preferidas de meio mundo, senão o mundo inteiro. Então, escreverei sobre a que é mais especial pra mim e que teve um papel fundamental na minha vida: A novela O OUTRO.

Na vida acontecem umas coisas incríveis mesmo. Nem em sonho eu poderia imaginar que um dia eu teria a oportunidade de te agradecer por isso. Olhando pra trás me ponho a pensar: "Aquela menina gordinha de 15 anos não fazia idéia..."

Em 87 eu perdi minha mãe, foi o momento mais dificil da minha vida, e pra piorar tudo, ainda fui morar em São Paulo com uma tia (irmã de minha mãe), que diga-se de passagem era bastante repressora. Eu não só havia perdido a mulher que mais amei na minha vida, como estava longe dos meus amigos, das minhas irmãs, da minha cidade.
E o que me acalentava a alma? Assistir a sua novela: O OUTRO. Ela trazia a minha cidade pra perto de mim.
Eu não perdia um capítulo sequer, e a Glorinha da Abolição tornou-se minha melhor amiga. Todos os dias eu olhava aquela praia linda do meu Rio de Janeiro e queria ser como a Glorinha, queria fugir dali e morar no calçadão.

Como eu não era tão impetuosa e nem louca, além de ser menor de idade, me contentava em somente sonhar ser como ela, mas eu fui um pouco mais além também. A imitava na medida do possível.
Eu usava aparelho ortodôntico na época e minha dentista era aqui no Rio, isso me proporcionava o alívio de vir pra cá sozinha uma vez por mês. Eu sempre pegava o ônibus em São Paulo por volta das 22h e chegava aqui no Rio por volta das 5h, e o que eu fazia? Minha outra tia, aonde eu ficava quando vinha, morava na Tijuca, mas eu da rodoviária pegava um ônibus até Copacabana, corria como uma criança, e me sentava no banco do calçadão. Ficava olhando o mar, as pessoas, o dia amanhecer, como a Glorinha. Eu esperava ansiosamente que ela aparecesse pra conversar comigo, um dia fui até em frente àquele casarão pra ver se ela estava lá...É claro que eu sabia que ela não existia (pra mim ela era tão real), mas eu tinha 15 anos e minha cabecinha me permitia viajar.
Foi a parte mais gostosa que lembro dessa fase horrivel da minha vida, era ver uma vez por mês o dia amanhecer na Praia de Copacabana.
E eu fazia isso tudo porque você me deu essa idéia, toda a saudade que eu sentia e era acalentada assistindo à novela, se realizava naqueles instantes.

Eu via o dia nascer por causa da Glorinha, por causa de você.

23 ANOS depois, tenho a honra e oportunidade de te agradecer, agradecer a Glorinha: Obrigada, viu? Amiga! Obrigada mesmo. E com lágrimas no rosto vou parando por aqui. Obrigada, querida, por ter sido minha amiga num momento que tanto precisei.
E ainda ser...

Estou muito feliz por poder comemorar seu aniversário com você. Obrigada por estar na minha vida, sempre.

E por me fazer ver o dia nascer.


(Eu e meu querido, ele com sua mania de fazer biquinho e eu com a minha de expremer os olhos. SIM, EU CONHECI A GLORINHA! Ela finalmente apareceu, depois de tanto eu esperá-la na praia)

PS- Voltei a morar no Rio, logo depois que a novela acabou.