terça-feira, 25 de maio de 2010

Aguinaldo Silva by Bruno Fracchia


Já contei e recontei esta história muitas vezes. No entanto, contá-la e recontá-la e expor minha longa relação de admiração ao nosso autor é a minha forma de dar meu depoimento de como Aguinaldo é uma pessoa do bem, imbuída de uma solidariedade e de um senso de coletividade raros de ser. Ressaltar de forma objetiva esses méritos de nosso aniversariante é minha forma de homenageá-lo nesta data. Sempre fui fã de novelas. Quando tinha 4 anos, pedia para me vestir de preto e girava para imitar a Perpétua. Também lembro de imitar o personagem de Paulo Betti e de assustar minha prima ao som da música da Mulher de Branco (desconfio que ela ficou abobada por causa disso). Evidente que não sabia nem que existia e, muito menos, quem era Aguinaldo Silva. Esse desconhecimento persistira em Pedra sobre Pedra, novela pela qual era fanático. Em Santo André, terra de minha família materna, em uma feira havia bala de coco em formato da “flor do Jorge Tadeu”. Para brincar de novela, óbvio que comprei. Assim como comprei a revista lançada ao final da novela e que vinha junto com um livro. Á época, com 7 anos creio eu, cheguei a pedir numa pizzaria para cantarem Entre a Serpente a Estrela. Maiorzinho, era assíduo telespectador de Fera Ferida: Flamel e seu pai (em cena à La Hamlet), Linda Inês, Orestes, Major Bentes e o Animal, Demóstenes Maçaranduba da Costa, Ilka Tibiriçá, Maxwell Antenor, Margarida Weber, Zigfrida, Isoldinha e Fabrício, professor Praxedes de Menezes, Rubra Rosa. Caramba, como as lembranças são vivas. Lembro-me que o primeiro personagem a falar foi Ataliba Timbó. Lembranças marcantes chegaram também com A Indomada, uma das novelas que mais gostei na vida. A vida se repete e em meu primeiro espetáculo, ao interpretar um político, minha referência foi Ypiranga Pitiguary. Em todos esses casos, Aguinaldo era um mito, um ser extraterreno que jamais conheceria. Dando um salto no tempo, veio Senhora do Destino e o felomenal Giovanni Improtta a quem imitava, inicialmente para a que foi (e ainda é,embora não esteja comigo) a “Preciosa do meu Destino” e, depois, Duas Caras. Pra esta, de forma incrível e surreal, movido pelo desejo de fazer a novela (já que haveria um núcleo universitário e uma crítica às greves universitárias), consegui de forma inacreditável um teste para o elenco de apoio. Sendo Aguinaldo um dos autores da minha “tríade” formativa, tornou-se ele mais especial. Não passei no teste, mas foi um dia inesquecível e uma experiência única (como viria a ser a Master). Com Duas Caras, surgiu o primeiro blog. E a primeira vez que escrevi no extinto blog, chamei Aguinaldo de senhor. Levei tempo para escrever “você”. O respeito que continuo a ter manifestava-se de modo formal (não que hoje seja muito diferente. Foi com muita vergonha que fui falar com ele no dia da assinatura do contrato). No fim do ano de 2007, veio uma surpresa: Aguinaldo começou a responder mensagens dos blogueiros e, pra minha surpresa, respondeu uma de minha autoria: o autor das 21h agora sabia que eu existia. Foi um presente de Natal. No começo do ano de 2008, fui para o Rio e acabei gravando por um acaso (como figuração) uma cena de Duas Caras onde, por coincidência, meu ídolo e ator que sonho em contracenar lá estava: Tony Ramos. E mais uma vez, Aguinaldo se tornava uma figura marcante em minha história. Não que no teste ou na gravação tenha havido qualquer interferência dele (afinal, nem nos conhecíamos), mas a assinatura da novela lhe pertencia. Meu envolvimento com Duas Caras (uma novela que, obviamente, me é especial demais) só foi divulgado por mim a ele ao final da novela. E Aguinaldo foi de uma generosidade surpreendente, semelhante a que recentemente teve com Kátia. Mais um presente surpreendente! Antes disso, para meu espanto, no blog já havia sido divulgado um espetáculo que eu fizera anos antes e um curta-metragem que protagonizei. Caramba, sem eu forçar barra, ele descobriu que sou ator! Veio o fim do primeiro blog. Confesso que bateu um desespero. Felizmente, veio o segundo blog. Com ele, a Master. A Master. Aula de graça, experiência, aprendizado, currículo, lições de vida, possibilidade de continuar mais um ano na faculdade (é maravilhoso dizer que sigo na USP graças a um dinheiro ganho com um trabalho pago pela Globo), matérias em jornal, internet e televisão, ganho de auto-estima, amigos, semanas no Rio de Janeiro (nunca me senti tão bem). E tudo isso de graça. E ainda a aprendizagem através do não. Algo muito difícil de ser feito sem sofrimento. E ele conseguiu fazer isso. Ainda com a Master, fechando-a com chave de ouro, vivi um dos momentos mais mágicos de minha vida: imitei Giovanni Improtta ao seu autor. E na sequência, ainda imitei o Latorraca e o Pedro Paulo Rangel. Como assim? É verdade, vivi tudo isso. Brincadeiras feitas em casa e depois entre amigos, pode ser feita a uma pessoa tão especial e importante como o Aguinaldo. Ainda em 2009, veio Deu no Blogão. Junto com ele, a coragem para ir atrás da publicação de um livro que há anos protelava em publicar. Eu, um desconhecido, pessoa desprestigiada fora de minha cidade, figurar num livro do Aguinaldo Silva! Como se não fosse pouco ter tido, ainda que pequena, uma participação na criação de sua próxima novela! Enfim, aquele ser extraterreno, Senhor, hoje é próximo, me conhece. Deu-me muitas coisas e, o mais incrível, sem nunca exigir algo em troca. Por que? Por que é um artista verdadeiro, um homem de bem. Que tem memória. São poucos os que ao se tornam consagrados, lembram de seu passado. A maioria o rasga e joga fora, esquecendo que também já foi alguém em busca de uma oportunidade. E sei que essa solidariedade, esse estender de mãos, esse comprar briga com gente grande em defesa de pessoas anônimas, não é só comigo, com os outros colegas da Master 1 e 2 (e das futuras edições), nem com aquela bailarina que ele ajudou na formação. Discreto como é ao fazer uma crítica, ao discordar em aula, a falar algo de algum ator, certamente ele ajuda outras pessoas (e ajuda não é só dinheiro), tendo a humildade de não querer se pavonear por isso. É a esse artista, generoso, trabalhador, obstinado e solidário, a quem dou meus parabéns. Parabéns por mais um ano bem vivido e pela pessoa que você é, meu caro professor. Junto a esses parabéns, aproveito a oportunidade para mais uma vez lhe dizer muito obrigado. Pelas oportunidades, pelos ensinamentos, pelos votos de confiança. Por sua trajetória de vida. São histórias como a sua e comportamentos como o seu que nos faz continuar tendo esperanças de que, sim, é possível vencer na área artística sem ter parente na televisão, sem ser o perfil galã (embora o senhor seja, com todo respeito, sexy, bonito e gostosão.rsrs). Ao trazer para o seu convívio, anônimos, sem QIs, você nos mostra e convence de que com persistência, talento e dedicação podemos conquistar nosso espaço. Aos que ainda não conquistaram, é necessário a esperança. E ela também nos é dada por você. Evidente que compete a nós próprios alimentarmos nossos sonhos. Somos os responsáveis por eles e por nossos atos. No entanto, ajudas externas que nos alimentem os sonhos são sempre bem-vindas e fundamentais. Aguinaldo, você significa para mim o que Rainer Maria Rilke significava para o jovem poeta de “Cartas a um jovem poeta”. Independente de trabalharmos juntos novamente ou não, tenho muita não só vontade, mas necessidade de mostrar pra você que fiz por merecer toda a confiança em mim depositada. De um dia criar asas e lhe fazer sentir orgulho deste jovem que, já tem muito orgulho, de lhe ter de diversas formas em minha história profissional. Obrigado, professor. Feliz aniversário.